Outro denunciante, Valdemir Resplandes dos Santos, foi assassinado em janeiro deste ano. Dois de seus parentes também já foram mortos, assim como uma testemunha do crime. Dos 16 assassinatos de trabalhadores rurais desde 2015, somente em um a investigação policial levou a prisão de suspeitos. Outros 15 seguem sem elucidação.
Para a CPT, a polícia civil é inoperante para identificar, indiciar e pedir a prisão dos responsáveis pelos crimes. “A polícia, assim, age de forma parcial, sem esconder sua proximidade com os fazendeiros e grileiros que ocupam ilegalmente as terras públicas. A impunidade desses crimes é uma das causas da continuidade da violência”, afirma a entidade. A Repórter Brasil pediu um posicionamento à assessoria de imprensa da Polícia Civil, que não se manifestou.
Palanque macabro
A constante tensão entre trabalhadores rurais sem terra e madeireiros ilegais também se acirrou com o assassinato, em 19 de maio, do irmão de Silvério, Luciano Fernandes, em Anapu. Após a morte do irmão, o ex-vice-prefeito de Altamira gravou um vídeo pedindo ajuda do então candidato à presidente, Bolsonaro. A camisa dele estampava uma imagem do capitão reformado e estava suja com o sangue de Luciano. “Nós temos que combater esses invasores de terra, esses criminosos, esses bandidos. Anapu virou lugar de bandido. A nossa esperança é você”, diz no vídeo, que viralizou nas redes entre bolsonaristas. Silvério acusa movimentos sociais, que estariam agindo liderados pelo padre Amaro.
Essa tese, no entanto, não encontra eco na investigação policial. O motivo do assassinato de Luciano, segundo o delegado Walison Damasceno, titular da Superintendência de Polícia Civil do Xingu, seria uma disputa entre madeireiros. Responsável pela investigação, que está quase concluída, Damasceno afirma que não há nenhuma ligação dos suspeitos com movimentos sociais.
Quase um mês após o assassinato, a polícia prendeu o mandante da morte de Luciano. Depois, também prendeu Josiel Ferreira de Almeida, conhecido pelo apelido de Gato de Botas, acusado de ser o intermediário do crime. Em outubro, os dois filhos de Gato de Botas foram assassinados dentro de um bar, em Anapu.
Silvério, ao ser perguntado pela Repórter Brasil se teve algum envolvimento na morte dos filhos do Gato de Botas, negou: “A gente não compactua com esse terrorismo de tirar a vida de ninguém. Nós somos pessoas de bem. Estávamos defendendo o nosso patrimônio. Meu irmão foi assassinado e agora eu passo a ser suspeito?”, questiona.
Cidade partida
Ao invés de imagens sacras e uma cruz, a igreja de Anapu tem no altar a pintura de um trabalhador rural crucificado sobre uma árvore cortada. Ao seu lado, estão a irmã Dorothy e o padre Josimo Tavares, ambos da CPT. O altar divide a cidade, mesmo dentro da igreja, já que há fiéis que querem a substituição da pintura por um altar convencional.